Por: Jornalista Edvaldo Campos
Rosinete, conhecida carinhosamente como Rosa, é uma figura respeitada na Cidade Estrutural, onde sua trajetória de vida inspira muitos que enfrentam desafios semelhantes. Natural da Bahia, Rosa saiu de casa com apenas 12 anos, fugindo das dificuldades de sua terra natal, e embarcou em uma jornada rumo a Brasília, em uma época em que viagens de pau de arara eram comuns. "Saí fugida, lógico, naquela época tinha aquela mania das meninas saírem de casa assim", relembra Rosa, com um tom misto de dor e força.
Ao chegar em Brasília, ainda criança, Rosa enfrentou dificuldades extremas para sobreviver, mas perseverou. Em determinado momento, foi levada para Anápolis, onde enfrentou momentos ainda mais duros, chegando a ser vendida duas vezes. “Graças a Deus consegui superar, passar por cima de todas as dificuldades que eu passei na minha vida”, conta. Após esses episódios, ela retornou a Brasília, onde trabalhou como empregada doméstica e lutou para criar sua família.
Mãe solo de quatro filhos biológicos e dois adotivos, Rosa enfrentou uma realidade dura, criando seus filhos sozinha. Sua trajetória de vida é marcada por grandes perdas pessoais, incluindo a morte de seu filho, assassinado dentro da Cidade Estrutural, e de dois irmãos, um deles vítima da violência em Brasília e o outro, das drogas em Águas Lindas. Apesar dessas tragédias, Rosa seguiu firme. "Passei muitas dificuldades na nossa cidade, mas graças a Deus consegui superar."
Rosa relembra os tempos difíceis, quando viver na Estrutural era sinônimo de resistência diária contra a violência, a falta de recursos e a opressão das autoridades. "Apanhamos muito para conseguir nossa cidade", diz, com a voz carregada de lembranças dolorosas. Ela menciona os confrontos com a polícia, enfrentando balas de borracha, cassetetes e despejos forçados.
Nos primeiros anos, a vida na Estrutural era marcada pela precariedade. Rosa e outras famílias moravam em barracos de lona, sem acesso a água potável ou energia elétrica. "Tinha época que a gente não podia entrar nem com alimento", conta, recordando-se de quando precisavam caminhar até o Guará para buscar atendimento médico para as crianças. A luta diária era agravarada pela falta de infraestrutura e pelas investidas das autoridades, que reprimiam os moradores.
Para Rosa, como mãe solo, a batalha foi ainda mais árdua. Ela precisou deixar seus filhos pequenos sozinhos nos barracos para se unir aos outros na luta por direitos. “Era muito difícil pra mim, mas eu tinha que lutar pelo futuro dos meus filhos”, relata. As noites eram especialmente tensas, com a cavalaria chegando de surpresa, obrigando os moradores a fugirem para se proteger.
Ela fala com carinho de seu papel como mãe, que se expandiu além do vínculo biológico. "Adotei mais duas crianças que precisavam de amor e carinho", diz, orgulhosa da família que construiu sozinha, com muita luta e sacrifício. A força de Rosa em meio a tantas adversidades é um exemplo de superação.
Rosa também lamenta a perda de um importante símbolo da história local, o "Museu do Sangue", que outrora contava a trajetória de luta dos moradores da Cidade Estrutural. "Deveria estar lá para contar nossa história, mas infelizmente não temos mais", comenta com tristeza. Ela acredita que esse espaço era essencial para que as novas gerações conhecessem a dura realidade enfrentada pelos pioneiros da comunidade.
Apesar das dificuldades e perdas, Rosa tem orgulho das conquistas alcançadas. Hoje, a Cidade Estrutural tem acesso a água, energia e outras infraestruturas essenciais, graças à luta incansável de pessoas como ela. "Graças a Deus, conseguimos nossa cidade", comemora. A sua história, como tantas outras, é um testemunho vivo da força e da resiliência das mulheres que, sozinhas, criaram seus filhos e lutaram por uma vida melhor.
Mas foi um encontro especial que mudou completamente o rumo da vida de Rosa: o dia em que conheceu a família Fraga. Ela conta emocionada como a ajuda do deputado federal Alberto Fraga e de sua esposa, dona Mirta, foi essencial para que ela conseguisse superar os momentos mais difíceis. "Minha vida mudou muito a partir do momento que eu conheci a família Fraga e comecei a trabalhar com eles", revela Rosa, com gratidão.
Ela lembra que, ao procurar Fraga pela primeira vez, estava enfrentando grandes dificuldades financeiras e sem perspectivas de emprego. Foi então que, em um gesto de solidariedade, o deputado e sua esposa estenderam a mão para ajudá-la. "Falei que estava passando necessidade e, em duas semanas, eles me deram um emprego", conta. Rosa é profundamente grata à família Fraga, especialmente a dona Mirta, que faleceu, mas que deixou um legado de bondade em sua vida. "Que Deus a tenha num bom lugar", acrescenta, com respeito e carinho.
Esse encontro foi um divisor de águas na vida de Rosa, que conseguiu, a partir daí, estabilizar sua situação e garantir uma vida mais digna para sua família. Ela não esquece de enfatizar o quanto essa ajuda foi fundamental: "Graças a Deus, foi eles que mudaram minha vida", afirma, destacando o papel crucial que a família Fraga teve em seu processo de superação.
Hoje, Rosa continua sendo uma referência de luta e perseverança na Cidade Estrutural. Sua história, marcada por dor, sacrifício e conquistas, é um exemplo vivo de como a solidariedade e a união podem transformar vidas. "Graças a Deus, conseguimos nossa cidade", comemora, refletindo sobre as conquistas da comunidade após tantos anos de luta.
Embora tenha enfrentado momentos muito difíceis, Rosa se mantém firme, orgulhosa de sua jornada e grata às pessoas que a ajudaram no caminho. Sua história é um testemunho de coragem e fé, e seu legado de resistência ficará para sempre marcado na memória da Cidade Estrutural.
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